O artista Kor Alessandro, em sua autobiografia intitulada ELEgante: negro, gay e imigrante, além de nos permitir conhecer sua trajetória de vida traz como reflexão,
através da sua escrita, questões familiares, econômicas e sociais a partir da afirmação de suas múltiplas identidades: ser negro, gay, nordestino, pobre. Identidades oprimidas, mas que não o impede de superar as adversidades.
O autor, de forma original nos concede conhecer sua história de vida, perpassada por dores, alegrias, frustações e conquistas. Percurso que se assemelha ao de muitas outras pessoas que, assim como Kor Alessandro, tem sua capacidade intelectual, va lores, beleza, entre outros atributos, questionados por uma normatividade imposta que não inclui a população negra.
O silenciamento da família em torno da sexualidade é outra questão de suma importância nesse trabalho. Quantas lésbicas e gays tem que se esconder para quem acreditamos, em um primeiro momento ser o nosso maior suporte que são nossas mães, pais, irmãos e irmãs? Quantos chegam a ser expulsos de casa de forma direta ou indireta por ter uma orientação sexual não hetronormativa? Questões subjetivas que conseguem vir à tona com este livro.
Em suas andanças, Kor Alessandro, sente a crueldade e a desumanidade ocasionada pelo racismo quer seja na cidade mais negra fora do continente africano, Salvador/ BA, quer seja em outras cidades brasileiras ou por suas viagens pelo continente europeu. Ao falar sobre o racismo na cidade de Salvador ele afirma que:
Aqui, os negros, gays e pobres sofrem com as contínuas tentativas de opressão, de cerceamento da liberdade. O preconceito é diário em bares, restaurantes, nas ruas, nas escolas, nos hospitais, nas lojas, nos ambientes de trabalho etc. Em todo canto desta cidade e deste país, nós não somos respeitados. ( p. 59).
Entretanto, seus sonhos são retroalimentados por pessoas que vai conhecendo ao longo do caminho e por referências negras como: Abdias do Nascimento, Léa Garcia, Grande Otelo, Ruth de Souza, Zózimo Bulbul, Zezé Mota, Milton Gonçalves, Antonio Pitanga, Cléa Simões, Marina Miranda, Adele Fátima, Julcileia Telles…
Cada capítulo deste trabalho nos desafia a repensar as relações sociais a partir do contexto racial, sexual, subjetivo. Uma autobiografia que revela muito de Kor Alessandro e, ao mesmo tempo mostra muito de nós negras e negros LGBT em uma sociedade racista, machista, homofóbica e classista.
Ana Cristina Conceição Santos